terça-feira, 11 de agosto de 2015

DESDE SEMPRE

Hoje fui com a patroa levar as crianças - meus enteados - para o colégio. Estacionei numa rua paralela e, enquanto ela encaminhava os pequenos para a escola, fiquei prestando atenção no movimento dos colegiais que saíam, em êxodo, do grupo escolar. Uma turma de meninos carregava à força um garoto loirinho, pequenino, menor que a média de seus pares. Levavam-no carregado pelos braços e pernas, o menino nitidamente desconfortável com a situação. Na outra ponta da rua, uns dez metros para baixo, meninas empurravam uma "colega": "Fica com ele, vai, vai lá, dá um beijo nele". Ela resistia, meio tímida, meio temerosa, recalcitrante aos apelos. Os meninos, por sua vez, diziam ao loirinho de óculos, "vira homem, vai lá, vai na esquina e beija ela. Sua mãe vai ficar orgulhosa." Súbito, as meninas e a "colega" dobraram a esquina. O menino, compelido pela alcateia, resignou-se, caminhou até ela e, juntos, entraram  na rua. Fiquei ali, dentro do carro, fumando um cigarro e observando o modus operandi da espécie adolescente, solzão no para-brisa, escutando Blame it on Me do George Ezra no rádio. A molecada estacionou ansiosa a poucos metros da esquina, um zum zum zum danado, cochichos, maldadezinhas, aquelas coisas de alcateia, de gangue infanto-juvenil mesmo. Um instante depois, o loirinho de óculos retorna da missão, silencioso, olhar fincado no asfalto: "Pegou ela?", perguntou o maiorzão da turma, provavelmente aquele garoto arquetípico do fundão da sala, o "formador de opinião" do microcosmo escolar. O loirinho acenou positivamente com a cabeça, ao que o estivador respondeu: "Aê, muleke, tua mãe vai ficar orgulhosa". Logo em seguida subiram as meninas, as "amigas" da "colega", comentando com as que ficaram de fora para assistir à torpeza: "E aí, ela beijou?" "Beijou, mano, beijou. Mó vagabunda"...
E assim a caravana segue, e la nave vá, o mundo gira, os garotões perpetuam os hábitos da espécie e a mulherada, desde cedo, cumpre a sina a que foi destinada desde o berço, engrossando as fileiras de vagabundas colegiais que se tornarão vagabundas universitárias, que um dia, quiçá, serão nossas mães vagabundas, irmãs, filhas, presidentes da república vagabundérrimas etc, etc, etc e tals.